sexta-feira, 19 de março de 2010

ahhhhhhhhh a doce tunisia

Escrito por Andreia Barros Ferreira   
tunisia1.jpgMercados agitados e cheios, casas construídas no meio das rochas do deserto amarelo e quente, praias paradisíacas na ilha azul de Djerba e uma gastronomia riquíssima. Ingredientes, que a juntar à história milenar do país, fazem da Tunísia um país completo no que toca à oferta turística.
 
22h30 de uma noite muito quente de quinta-feira. No primeiro momento em que se põem os pés fora do aeroporto com o seu ar condicionado tem-se finalmente a certeza de que chegamos ao nosso destino: Tunes, capital da Tunísia, no Norte de África. Será de lá que partiremos para conhecer a cidade, também para rumar a Sul, em direcção a Djerba, uma das ilhas azuis do país. É de lá que sairemos depois rumo ao deserto rochoso, amarelo e silencioso dos Ksars e das aldeias berberes. "Por muitas viagens que se façam, chega-se sempre transformado depois de uma semana a percorrer o deserto", afirma Sílvia Lopes, relações públicas do Turismo da Tunísia em Portugal, e nossa companhia no país, para além das figuras públicas Mónica, Rubim e Duarte Siopa.
tunisia2.jpg
 
No mercado
"O meu pai não tem muito dinheiro, mas é feliz", afirma convicto Soufiane Hani, sociólogo e conversador em cinco línguas, mas a trabalhar em hotelaria. "O essencial é ter saúde", remata Khacha Mohamed, pai do primeiro, enquanto serve um chá de menta aos convidados no seu atelier de produtos artesanais, no centro de Djerba. De trajes compridos e escuros, barba grande, chapéu de folha de palmeiras na cabeça e um sorriso acolhedor no rosto, Khacha vai contando no seu francês perfeito que tudo começou quando tinha 12 anos. Na altura, a Tunísia ainda não tinha sido invadida por turistas e por isso o artesanato tornou-se no seu ganha-pão. Agora conta já 45 anos a fazer tapetes, carteiras, cinzeiros e chapéus. O que manufactura tem tanta qualidade que é já certificado pelo Governo, a ponto de fazer os tapetes para a sinagoga de Djerba. Vai contando com a ajuda do filho que nos tempos livres atrai os turistas a casa do pai, entregando-lhes cartões de visita e acolhendo-os no pequeno atelier.
No centro de Djerba tudo é ao lado. Perto do atelier de Khacha Mohamed ficam lojas de produtos tunisinos, esplanadas onde se pode beber um refrescante sumo de laranja natural por apenas um dinar (pouco mais de 0,50 cêntimos) e espaços onde se vendem as mais variadas especiarias, como cuminhos, papikra e gengibre. E a especiaria que permite fazer o famoso cuscuz, um dos pratos mais tradicionais em terras tunisinas. É por lá que fica também o hotel mais antigo em Djerba: o Arischa tem mais de 400 anos e já pertenceu a uma família berbere. Actualmente é um hotel simpático, cujo pátio central está coberto de buganvílias e de elementos decorativos que se fundem com a paisagem tunisina em volta.
É também no centro de Djerba que fica o mercado central. Em cada esquina há mulheres e homens de chapéu de folhas de palmeira e as mais tradicionais juntam ao chapéu vestes compridas, em tons de branco e azul, e cobrem o rosto. Ao contrário do resto da ilha, onde há uma enorme predominância do azul magrebino, cor característica dos países do Norte de África e obrigatoriedade do governo para que a Tunísia preserve a tradição (o azul também serve para afastar os mosquitos), nos mercados as cores são imensas. Em todas as lojinhas por onde passe vai ser fortemente assediado para que veja alguma coisa. A estória começa com um "bonjour" e no minuto seguinte já lhe estão a dizer que vão à bancarrota se descerem o preço para aquele que está a pedir. Mas não se deixe enganar: todos dizem o mesmo e basta começar a virar-lhes costas para o preço descer para pelo menos de metade. Na verdade, o regateio faz já parte da tradição dos mercados na Tunísia e se não entrar no jogo pode ser até que os comerciantes fiquem chateados consigo.
.
tunisia3.jpgViver no deserto
A alguns quilómetros de Djerba e tomando a ponte que une a ilha ao Sul do país, começa a surgir o deserto, o chamado rochoso primeiro. Os sinais começam a aparecer com os sinais de perigo – há um que merece especial destaque e que indica a possibilidade de aparecimento de dromedários (camelos apenas com uma bolsa) no meio da estrada. A caminho de Tataouine há lugar para um lago salgado e para campos e campos de vegetação agreste. Há também casas de pedra quase destruídas, burros, cabras e seus pastores. E há sobretudo uma exigência clara do deserto: silêncio pela sua grandiosidade e beleza. O primeiro ponto de paragem obrigatória é nos Ksars. Parámos no Guled Soltane, um dos mais de 150 existentes na Tunísia. Trata-se de celeiros fortificados que pertenciam aos berberes que não se quiseram converter ao Islão quando o território foi invadido pelos árabes. Fugiam para estes espaços em tempos mais conturbados e nos mais calmos iam para as aldeias escavadas nas rochas, que têm actualmente o seu nome.
É para lá que também seguimos, mais precisamente para a Aldeia Berbere Chenini. Na verdade existem já muito poucas, o que faz desta uma verdadeira preciosidade. Aqui o tempo não tem certamente a mesma importância que nas grandes cidades. Existe um pequeno café, uma ou outra loja com os habituais produtos tunisinos e tudo o resto são caminhos estreitos até ao cimo da montanha - algumas destas casas são ainda habitadas, outras foram já abandonadas. E existe a língua berbere, sem forma escrita, apenas falada, e que vai passando de pais para filhos. Só eles se entendem.
Se seguíssemos mais para Sul, entraríamos no Deserto do Sarah, o maior do mundo, e visitaríamos os três Oásis (povoações) que lá existem e que comprovam que a vida no deserto existe e é possível. O tempo, o nosso Ocidental, não nos permitiu seguir viagem, porque tínhamos à nossa espera Tunes, capital da Tunísia.
.
tunisia4.jpgAgitada Tunes
Chama-se Porta do Mar e era a antiga entrada da Medina de Tunes, uma das maiores da região. O nome é perfeitamente lógico e surgiu porque o mar chegava até ali. A Medina é o mercado de Djerba, mas com proporções muito maiores, o que significa que quando se trata de fazer compras, a escolha aqui é muito maior e a facilidade em se perder nas suas ruelas aumenta também exponencialmente.
Do lado oposto à entrada fica a Mesquita de Tunes. Ao contrário do que se poderia esperar, nem para lá entrar é necessário usar qualquer véu a cobrir o rosto e o cabelo, até porque os tunisinos aproveitaram o interesse dos turistas e cobram três dinars pela entrada no local. A única restrição tem que ver com a separação de homens e mulheres: uns entram por um lado, outros por outro.
Lá perto também fica a Praça do Ministério, onde ser reúnem, tal como o nome indica, todos os ministérios do país. Percebe-se que é um sítio importante pelo número de polícias em volta do imponente edifício (há muitos polícias espalhados pela Tunísia inteira, o que transforma o país num local seguro, mas nesta praça o número é ainda maior) e há mesmo um perímetro em volta do local que não pode ser pisado pelos turistas.
O resto da cidade é tão animado quanto o local da Medina e nas avenidas principais o trânsito é mesmo mais caótico do que nas principais cidades portuguesas. É por isso que vir de Djerba e do deserto para Tunes pode revelar-se um choque, mas é também muito interessante para perceber que o país oferece ao visitante realidades completamente distintas. A mistura entre a tradição e a modernidade é talvez o mais digno de registo: é possível verem-se pelas ruas mulheres de rosto completamente tapado ao lado de outras completamente europeizadas e até com mais cuidado com a imagem do que aquela que existe na Europa – não é em vão que a Tunísia se está a transformar num país de primeira escolha quando o assunto são cirurgias estéticas pela relação qualidade/preço.
.
tunisia_janela.jpgO cheiro das buganvílias
Para descansar da agitada Tunes, a uns 20 km da capital da Tunísia encontra-se a pitoresca aldeia de Sidi Bou Saïd. Do seu topo, pare num bar típico, peça chá de menta e pinhões, sente-se nos bancos forrados a mantas coloridas e aprecie o Mediterrâneo em baixo. Garantimos-lhe que vai perceber por que é que Sidi Bou Saïd conquistou a elite intelectual europeia no início do século XX, tendo sido alvo de escritores e pintores famosos, como Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre, Georges Bernanos ou André Gide, talvez pelo seu casario branco e azul coberto de inúmeros ramos de buganvílias. "Da Tunísia levo o misticismo e uma história antiga que se mistura com a recente e que me apaixona", afirma Duarte Siopa, enquanto acrescenta que foi a pequena localidade de Sidi Bou Saïd que mais o conquistou. "É das coisas mais bonitas que já vi", afirma sem qualquer dúvida. E promete regressar para revisitar a localidade, as Medinas, o deserto e para conhecer a fundo Cartago.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

sua opinião e comentarios são sempre bem vindos fique a
vontade