quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Notas da Tunísia Notas e comentários, apontados por dois curiosos, leigos e amantes de aventura e diferenças. Entre 22 e 29 de Junho de 2009

por Abdul Rahamane Ibrahimo Raichande

segunda-feira, 6 de Julho de 2009

sexta-feira, 26 de Junho

Como previsto, o toque de alvorada foi logo pelas 4:00 da madrugada. Embora aqui, o dia já desse sinais de de querer mostrar-se, com novos desafios. Foi o tempo de se saborear um fausto pequeno almoço, com quase tudo a que tinhamos direito, e servidos por excelentes profissionais de hotelaria. Meia hora depois, já estavamos todos preparados, à porta do hotel, quando súbitamente surge uma caravana de jipes todo-o-terreno, conduzidos por bérberes, com trajes típicos. Não conseguiamos vislumbrar os seus rostos, dentro daqueles lenços multicoloridos que cobriam a cabeça, deixando apenas os olhos à vista. Gesticulando e falando num dialecto incompreensível para todos nós, pareciam pretender indicar-nos o sentido dos veículos. Muitos de nós, apercebendo-nos das suas pretensões, e sem a presença do nosso guia oficial, escusamo-nos a entrar nos jipes. O pensamento era, "e se fôr um rapto?". Num país como aquele, com as histórias que nos chegam muitas vezes aos noticiários...não era impossível de todo. Às tantas, o líder do grupo, tentou passar o telemóvel a um dos excursionistas mas este, esquivando-se, não queria falar. Talvez não entendesse nenhuma das línguas, nem sequer o espanhol. Assim, eu roubei o telemóvel das mãos do mouro e pus-me à conversa com o interlocutor. Era o guia, reconheci-o imediatamente. Para melhor me identificar, disse-lhe que quem estava do outro lado da linha era o Ali Babá . Ele imediatamente reconheceu-me. Falamos um pouco e esclareceu-me que os indivíduos eram os motoristas que nos iriam levar pelo passeio e visita aos dois oásis logo no princípio da manhão. Pediu-me para esclarecer os outros companheiros e seguimos viagem, em direcção aos oásis. Pelo caminho, deu para perceber a paisagem. É impressionante. O oásis supreendeu-nos, pela positiva. Sempre pensamos, pelas imagens que nos chegam dos filmes e documentários que aquilo seria um ponto pequeno, insignificante, no meio daquele mar de areia. Mas não, estes dois que visitamos, foram esclarecedores. O primeiro, era mais turístico. Foi em tempos um oásis com vida própria, mas actualmente as pessoas que lá vivem, sobrevivem exclusivamente do movimento de turistas e das suas receitas. É um oásis que mantém os vestígios de vida. Muitas ruínas de casas e caminhos podem ser encontradas, para além de um sistema de canalizações (canais) por onde a água corre. Há uma nascente natural, no meio das pedras que jorra uns tantos litros de água (não me lembro quantos)por minuto. Esta água, por vezes cai em cascata, mostrando criações naturais magníficas. Nas paredes montanhosas encontram-se vários testemunhos de vida marinha. É assustador pensar que um dia, todo este lugar que o nosso olhar pode alcançar, foi pleno de vida. Sem querer, acaba-se por pensar no futuro. Há, como em todo o país que visitamos, inúmeros vendedores. Aqui, para além de toda a panóplia de artigos encontram-se também disponíveis uma vasta variedade de pedras semi-preciosas. O guia que nos mostrou este local era bastante simpático, muito informado e óptimo comunicador. Para além de tudo, penso que as senhoras ficaram todas maravilhadas pelo charme do bérbere, e pelo carinhoso nome por que eram tratadas, simplesmente gazelas. Não nos retivemos muito tempo neste oásis, pois ainda tinhamos um longo dia pela frente, e já entendiamos porque nos tinhamos levantado tão cedo. Ainda não eram 7 horas e sentia-se no ar um dia quente, a aproximar-se nos minutos. Partimos, contornando os caminhos de volta, até apanharmos a estrada que nos levou até ao segundo oásis que visitamos. Deixamos as viaturas todo o terreno numa pequena localidade e prosseguimos o percurso,de uns 3 Km, transportados em charretes movidas a cavalos. Foi engraçado e divertido, o caminho até ao oásis. Este era um local autêntico. Os habitantes ainda hoje fazem a sua vida quotodiana aqui. A um primeiro nível, mais superior e elevado, encontramos plantações de palmeiras, que por sua vez geram a sombra necessária para a sobrevivência de várias espécies de árvores de fruto, a um segundo nível. No terceiro nível, e junto ao solo, podemos encontrar culturas várias, essenciais para alimentar durante todo o ano, várias famílias. A produção hortícula e frutícola destes oásis é essencialmente para consumo próprio das familias que os exploram, no entanto por vezes os excedentes (principalmente tâmaras, de menor qualidade), são comercializadas. Há água abundante, e chove nestes locais. O guia informou-nos que à pouco tempo, choveu tão intensamente que as grandes quantidades de água provocaram derrocadas em algumas estruturas e algumas famílias tiveram que ser realojadas por organizações não governamentais. O resto do tempo, que não foi muito, deu para conhecer um pouco mais o local, conversar um pouco com os nativos e compar alguma coisa, mais no sentido de os ajudar um pouco do que própriamente adquirir algo com valor acrescentado. Prosseguimos a viagem, que iria, a partir daqui, rumo a Norte, até Hammamet. Fomos subindo, admirando os contrastes na paisagem, deixando para trás a aridez do sahariana e pouco a pouco vislumbrando novamente os verdes campos de olival e variadas culturas. Aqui e ali, rebanhos de ovelhas e algum gado bovino. Alguns rios, muitos deles apenas sazonais. Paramos para almoçar em Gafsa. Não houve tempo para contemplar a cidade, apenas para almoçar e admirar o hotel, em estilo típicamente árabe. Fez lembrar aqueles ricos palácios de um sultão das mil e uma noites. Paredes ricas, com quadros que pareciam sussurar algo. O chão magníficamente coberto por enormes tapetes, com longas horas de trabalho manual, executado integralmente por mulheres, que ainda hoje ainda se dedicam a este velho ofício. Os tectos deste secular edificio, são de uma beleza impressionante, o mobiliário a condizer com o toque sultanesco do local.Mas o tempo foi parco para desfrutarmos plenamente deste belo palácio, aliás, durante todo este tempo de excursão, foi clara a diferença que nós, como portugueses dedicamos ao tempo das refeições: para nós, almoçar, jantar, ou mesmo petiscar, é um momento singular, uma oração, embora quotodiana, nunca se repete. Enquanto almoçamos, conversamos, degustamos, bebemos, e matamos o tempo nisto. Aqui na Tunísia, como em muitos outros sítios, tempo de refeições é como, ter o automóvel a necessitar de mais combustível, para-se no posto de abastecimento e toca a emburcar, até o depósito estar atestado, quando se tem orçamento para tal. Depois paga-se e toca a seguir viagem. Foi o caso, pensamos que demoramos nesta paragem para o almoço à volta da meia-hora. Prosseguimos a viagem, desta vez, iriamos realizar a última paragem, neste tour, para visitar o terceiro lugar mais sagrado dos muçulmanos: Kairouan, localidade onde, históricamente, foi o ponto de partida para a dispersão do islamismo, em África e Europa. Infelizmente, não nos foi possível visitar o interior da mesquita, pois a hora da nossa chegada, coincidiu com a oração semanal mais importante dos muçulmanos, o Jumma. Mas houve tentativas de alguns companheiros de viagem penetrarem nas grades portas do santuário, onde se amontoavam vários pares e tipos de calçado, sendo logo goradas por fiéis guardiões da mesquita. Facto compreensível, a prática religiosa e a fé, não se deverão compadecer perante motivações turísticas e simplesmente curiosas. Há que separar as águas.
Desta forma, limitamo-nos às vistas exteriores e ao ambiente perfumado, aromas exóticos, que os homens e mulheres deixavam no ar, cruzando as vielas em redor da grande mesquita, em resposta ao chamamento para a oração. Até aqui, enquanto uns entregavam o seu espírito aos desígnios de Deus, outros aproveitavam para negociar. As ruas, que cercam esta mesquita, estão atoladas de mercadores que vendem um pouco de tudo. Estratégicamente, existem grandes casas especializadas em tapetes e produtos de artesanato, que pensamos terem alguns acordos com as operadoras turísticas ou então, apenas com os motoristas ou guias. Pois, por várias vezes incentivaram-nos a visitar estes estabelecimentos.
Terminada a rápida visitita à mesquita de Keirouan, fizemo-nos novamente à estrada, desta vez sem interrupções para o nosso destino final, Hammamet. Chegamos ao hotel ainda a tempo de dar um mergulho na sua piscina e apreciar um bom jantar. Estávamos um pouco esgotados, mas com forças para fazer qualquer coisa à noite, agora que já tinhamos, entretanto, travado conhecimento com alguns passageiros da excursão. Depois do jantar, ainda fomos dar uma volta em redor do hotel e acabamos na esplanada a ouvir um pouco de música e a beber um chá de menta. Na manhã seguinte, temos a excursão às praias com areia branca e águas cristalinas, vamos ver se ao passeio tem mesmo lugar, uma vez que pagamos e (como já referi antes), não temos qualquer comprovativo desse pagamento, foi um contrato de palavra. Vamos a ver se não foi apenas palavra de óleo!

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