quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Tunísia

Um chá no deserto ou numa esplanada sobre o Mediterrâneo? Afinal, há destinos que têm muito mais para oferecer do que aquilo que muitos imaginam.
As mentes dos milhares de turistas que enchem, durante todo o ano, os voos com destino ao aeroporto internacional de Tunes-Cartago estão, quase todas, sintonizadas no mesmo cenário: sol, praias de águas calmas e transparentes. Em alguns casos, essa obsessão pode transformar-se, rapidamente, numa pequena desilusão. Afinal, a Tunísia é um típico país mediterrânico, com um clima, na costa, muito semelhante ao português ou ao espanhol. Ou seja: nas oportunidades para uma saída durante os meses mais frios esqueça os hotéis de praia e aventure-se num país onde se cruzam diversas tradições culturais.
Os romanos construíram ali, durante mais de cinco séculos, a sua parte africana do império, depois de destruírem os sinais da presença anterior: a civilização cartaginesa. Nos tempos que correm, a Tunísia é um excelente sítio para compreender melhor o islão: a religião está muito presente (99% da população é muçulmana), mas este é um país laico, que celebrou recentemente 50 anos de uma independência que se esforçou por separar estado e religião, dando, por exemplo, todos os direitos legais às mulheres. Nunca houve problemas graves com a afirmação de grupos fundamentalistas – como aconteceu, por exemplo, na vizinha Argélia. O ambiente na Tunísia é, por norma, de uma grande segurança para o visitante.
Duas sugestões para uma escapada de poucos dias.

Deserto
Só a palavra fascina e faz-nos viajar. Uma extensão aparentemente infinita de areia é das experiências mais intensas que o Norte de África tem para oferecer. A pequena cidade de Douz é considerada, na Tunísia, «a porta do deserto». E percebe-se bem porquê. Como nas ilustrações dos livros infantis, há muitos sítios em Douz onde as ruas acabam e… o deserto começa. Tão simples quanto isso. O deserto, a perder de vista. E a provocar-nos: «Tens coragem de avançar? De deixar tudo isso para trás?». Se o apelo para entrar pela areia dentro, sem parar, for muito forte, Douz é um bom sítio para se estar. A partir daqui organizam-se expedições, em jipes ou em dromedário, por algumas horas ou por vários dias, com a experiência única de dormir no meio do nada, algures nos 40 mil quilómetros quadrados do território da Tunísia ocupados pelo Sara. Uma viagem para descobrir que o deserto não é só... deserto.
Todos os anos, no final de Dezembro, é em Douz que decorre o Festival Internacional do Sara. Uma celebração, com vista para um horizonte infinito, das culturas sarianas que atrai não só turistas como grupos nómadas dos países vizinhos (Líbia e Argélia). Oportunidade única para se assistir a uma luta de dromedários, a concursos para escolher o melhor mehari (a maior, e mais nobre, espécie de dromedário) ou o melhor slougui (raça de cães tratados pelas tribos nómadas como parte integrante da família) ou, ainda, para ver uma exibição breve de hóquei... na areia (onde mais poderia ser?). Mas o mais espectacular é assistir aos grandes cortejos de nómadas, orgulhosos da sua cultura, mostrando como é um casamento tradicional (momento alto da cerimónia) ou exibindo as suas habilidades em rápidos cavalos. Tudo com um relato completo, em árabe e francês, que sai das colunas do recinto, aberto. Se não viajar na altura do festival, tente passar uma quinta-feira em Douz; é o dia do mercado, frequentado por gente de toda a região, por nómadas e, cada vez mais, por turistas.
Desde que foi inaugurado o aeroporto internacional de Tozeur/Nefta tornou-se mais fácil chegar a estas remotas paragens.

Sidi Bou Saïd
No extremo norte do país, sugerimos uma experiência completamente diferente: parar por uns dias em Sidi Bou Saïd, numa falésia sobre as águas azuis e esverdeadas do Mediterrâneo. Percebe-se, logo à chegada, que estamos num sítio especial, único. Foi o que pensou o barão francês Rodolphe d’Erlanger, eminente musicólogo e mecenas, que decidiu viver os últimos 20 anos da sua vida nesta aldeia tunisina e ajudou a torná-la Património da Humanidade, para sempre preservada nas suas paredes brancas em contraste com as portas e janelas azuis. O entusiasmo de gente como Paul Klee, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre ou André Gide por esta aldeia mediterrânica foi aumentando a sua lenda. Hoje, é dos sítios mais exclusivos da Tunísia – visitado por muitos, mas habitado por uma elite que pode ali comprar uma casa. Para pernoitar em Sidi Bou Saïd (e, assim, poder usufruir da calma das suas ruelas e cafés nas horas menos turísticas), aconselha-se uma reserva com antecedência, se possível (as escolhas não são muitas...) no Hotel Dar Said, um lugar cheio de charme, parte integrante do romantismo e da atmosfera relaxada.
Obrigatória é a passagem, sem pressas, pelos terraços do Café Sidi Chabaane, que descem pela encosta com uma vista soberba sobre o golfo de Tunes. E é impossível percorrer estas ruas sem frequentar ou, pelo menos, espreitar, o clássico Café des Nattes, verdadeiro coração, e mesmo ex-líbris, de uma aldeia cheia de personalidade, onde apetece sempre regressar, com todo o tempo do mundo. A bebida certa a experimentar em qualquer um destes locais é chá com pinhões. 
Se tiver o privilégio de ficar instalado em Sidi Bou Saïd, está a uns escassos 20 quilómetros da capital, Tunes, com uma atmosfera urbana a fazer lembrar os tempos de protectorado francês e uma medina vibrante, cheia de vida e comércio. Mais perto ainda estão as ruínas de Cartago. As praias podem esperar.

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