sábado, 16 de janeiro de 2010

cafe por terras arabes

Café com cardamomo
 
O nome é, só por si, mágico, envolvente e inebriante. Traz com ele um delicioso aroma e uma sonoridade sensorial que bem podia ser o título sedutor de um livro ou de um filme, mas... é simplesmente um símbolo de uma tradição  ancestral dentre muitas das existentes na hospitalidade dos beduínos da Arábia.


O café, por terras do Médio Oriente, é mais do que uma simples bebida. Na Jordânia, por exemplo, oferecer um copo de café a alguém e ser aceite significa boa vontade e boas intenções de ambas as partes. Convidados, ou simplesmente qualquer viajante que surja nos seus acampamentos, são acolhidos e protegidos sob as suas tendas pretas de pele de cabra, nas quais são acarinhados com “todo o pouco” que estes povos do deserto têm para oferecer, um código de honra e lema da vida beduína que continuam a seguir desde tempos imemoriais. As mulheres assam o pão sem fermento – que tem forma de pizza espalmada – no sajj, espécie de panela convexa, sob as brasas. O carneiro é cozido num forno improvisado, num buraco feito na areia do deserto que por ali fica durante horas a cozinhar condimentado em diversas especiarias.


Um lugar ideal para desfrutar desta hospitalidade beduína e usufruir desse ritual do café é com a tribo Hweitat, nómadas do deserto de Wadi Rum, um vasto deserto de areias vermelhas e formações rochosas, os imponentes Sete Pilares da Sabedoria que serviriam de inspiração ao título do livro de Lawrence da Arábia, que por ali andou apoiando  a luta dos árabes contra o domínio turco, durante a Primeira Guerra Mundial.


A tradicional cerimónia beduína do café envolve o oferecimento por três vezes de copos com esta bebida. Embora seja educado aceitar a primeira, é aceitável rejeitar as outras duas. Se não desejar mais, mexa o copo de um lado para o outro duas ou três vezes com a mão livre parada no colo, no tapete estendido no chão ou nas baixas e típicas mesas destes povos do deserto. Se, por outro lado, quiser mais, basta levantá-lo.
Os beduinos de Wadi Rum bebem o café aromatizado com cardamomo. Aos grãos do café, vindos do Iémen  – e moídos na hora de forma artesanal – é acrescentada esta misteriosa especiaria que, segundo dizem, misturada com o café liberta toda a ira que possa existir no nosso corpo.


Os beduínos, desde há longos séculos, levam uma existência nómada, espalhando-se desde o Golfo Pérsico ao Oceano Atlântico, e das fronteiras da Turquia ao Iémen. Bedu, palavra árabe de onde deriva o nome Beduíno, é um mero rótulo, que significa “o que vive no deserto”. Encantam-me os beduínos! Gosto da sua cultura, das suas tradições. O nome chega-me carregado de encantamento e magia. Gostaria de me alongar por aqui e contar mais sobre eles, relembrar outras tradições, contar outras histórias, mas deixarei no ar, como que a flutuar com aroma de café quente com cardamomo, como introdução ao próximo post que também fala de beduinos, que não se chamará café com cardamomo, mas por acaso andará em redor de um interessante livro que descobri um destes dias.


Mas, mais uma vez “vestida” de Shererazade lusa...


... e tal como no final de cada um dos relatos das Mil e uma Noites se escrevia: “ Neste momento da narração, Shererazade viu despontar a manhã e, discreta como era, calou-se”. O mesmo vai acontecer comigo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

sua opinião e comentarios são sempre bem vindos fique a
vontade