segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

em quanto isso na tunisia

Um pequeno exemplo de corrupção

TÚNIS (TUNÍSIA) – Já havia acontecido antes em viagens pela África, mas nunca de maneira tão explícita quanto 20 dias atrás, no aeroporto de Túnis, capital da Tunísia.
Refiro-me ao achaque, à corrupção. A Tunísia é, na fachada, um dos países mais modernos e desenvolvidos da África, onde as coisas aparentemente funcionam em ordem quase militar. O que não impediu que uma autoridade local se aproveitasse de um incauto viajante estrangeiro –euzinho.
Acompanhado de minha mulher, entrávamos na área de embarque do aeroporto para pegar o avião que nos levaria, via Itália, de volta ao Brasil. Coloquei minha mochila de mão e minha carteira numa bandeja para passar pelo raio-x quando, do outro lado da máquina, um policial apontou para minha carteira. Dentro, havia uma nota de 10 dinares tunisianos, algo como 5 euros (uns R$ 15).
“Essa tem que ficar”, disse ele, apontando para a nota.
Pedi para ele repetir, tentando entender direito, já que meu francês é bem limitado. Ele repetiu e confirmou. A nota teria que ficar.
Em alguns países africanos, é proibido levar dinheiro local para o exterior, mas isso se refere geralmente a grandes quantidades, não a dinheiro miúdo. Aquela notinha serviria no máximo para tomar um último café.
“Nessa parte do aeroporto, não se aceitam dinares. Só euros ou dólares”, afirmou, apontando para o setor de embarque.
Ingênuo e um tanto nervoso, tirei a nota e entreguei ao policial. Aeroportos são postos de fronteira, e postos de fronteira me tiram do sério. São locais em que o viajante está vulnerável, totalmente à mercê da autoridade, dependente de um sorriso simpático para prosseguir viagem. Talvez por isso, cometi a estupidez sem fazer mais perguntas. Afinal, era evidente ali que a história contada pelo policial não fazia sentido nenhum. Como eu perceberia logo em seguida, aliás.
Eu tinha também algumas moedas na carteira, e perguntei se podia levá-las. “Obrigado”, disse ele, rindo, com minha nota na mão. “Mas essa nota vai para o monsieur ali”, afirmou, apontando para um dos seus superiores, enquanto outros colegas davam risada. “Essas moedas você usa para tomar um café”, afirmou, colocando-as na minha mão, aparentando generosidade.
Foi quando percebi o golpe. Não havia regra nenhuma proibindo o turista de entrar na sala de embarque com dinheiro do país. E não havia impossibilidade nenhuma de usar dinares. Caminhando alguns passos, havia um café. Indignada com o achaque, minha mulher fez questão de perguntar se ali aceitava moeda local. “Claro”, respondeu o caixa.
Fizemos menção de voltar e tirar satisfação com o guardinha corrupto, mas nessas horas uma avaliação pragmática sempre acaba prevalecendo. São apenas 10 dinares. O avião já vai partir. Pior: o policial pode se enfurecer e nos deter ali, arruinando a viagem. Não vale a pena.
Embarcamos desmoralizados. É impressionante o poder que um pequeno gesto desse tem de estragar seu dia, assim como é impressionante a presença do achaque, da pequena corrupção no cotidiano dos africanos. Em Angola, policiais e pequenas autoridades pedem “gasosa” para resolver qualquer parada. Em vários países, governos corruptos dão a senha para que essa praga se espalhe por toda a sociedade.
A raiva do policial corrupto foi a última imagem que levamos do belo país que é a Tunísia. Esse talvez tenha sido o maior prejuízo de todos.

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